A Celebração do silêncio
Não tem jeito. A segunda-feira chega mesmo com toda sua vivacidade alucinante: os carros quase sempre engarrafados no trânsito e o som dos motores acordando a vizinhança.
As rádios cheias de notícias, só suas vinhetas de abertura a 140bpm já deixam o corpo ainda dormente com a adrenalina à flor da pele. As cobranças dos emails logo vêm pelas notificações do smartphone. Precisa-se chegar logo no trabalho. É verdade, toda essa avalanche vem sobre os brasileiros dos grandes centros. (foto da ponte: André Teixeira – O Globo*)
E a música? A mídia atrai a atenção destas pessoas tão atarefadas bombardeando um mesmo hit por toda parte e impregnando as mentes. Ouvir música? Ao andar na rua com o mp3 e no carro com a atenção no trânsito. Nos shoppings, cada loja tem a sua micro-rádio que deixa as pessoas se sentirem nas passarelas. Segundo Theodor W. Adorno, esta cultura aliena os cidadãos que passam a ter um “coração-máquina”.
Na cultura caótica de massa, perdemos muito o senso contemplativo tanto do silêncio quanto o de uma obra musical. O apelo popular é evidente e a superficialidade também, deixando clara a evidência de que muitas vezes não há esforços genuínamente artísticos.
“Sem silêncio não tem música. No terceiro milênio, se não reencontrarmos este instante, não conseguiremos nunca chegar à música dos nossos dias. Porque o homem do nosso tempo, não sabe, realmente, o que significa o silêncio. Estamos cercados de um ruído constante, voluntário e provocado. Ao chegar em casa, cansado, o homem estressado ligará imediatamente a televisão. Quase que de forma automática.”( ZIGGIATTI, Lea. Recursos acústicos e estéticos de um contrabaixo. Correio Popular. Campinas, 29 out. 2002).
Contemplar o silêncio, ouvir o som das aves e o despertar da cidade, levantar para novo dia com mais tranquilidade, ouvir uma música que não seja um hit, ouví-la de forma consciente observando suas nuances, timbres e não como um ruído durante nossos afazeres. Às vezes não fazemos isso. Mas muitas vezes temos este poder de escolha.
Ramon Chrystian A. Lima