Omissos?
Não é difícil estarmos andando em pensamentos a respeito da qualidade musical de nossas igrejas.Há uma preocupação notável claramente demonstrada nas conversas entre ministros e pastores que realmente vêem aquilo que está tão claro aos nossos olhos.
São notáveis as dificuldades que temos para encontrar músicas que sejam teologicamente consistentes e técnicamente apropriadas ao canto litúrgico.
Essa preocupação demonstra a importância que essa questão vêm ganhando em nosso meio.
Por aproximadamente 900 anos dominou na liturgia da igreja um tipo de música denominado canto gregoriano. Este canto começou em torno de 600 d.C. e foi dado como sacro e próprio à liturgia até a reforma em 1517. O canto gregoriano tinha a propriedade de impressionar os indivíduos que iam até as catedrais. Havia uma função mística, onde as pessoas ficavam envolvidas em um ambiente completamente sagrado e eram "abençoadas" por isto. Somente o clero poderia cantar esse tipo de canto altamente melismático e em latim, ou seja, nem todos poderiam compreender o que se estava cantando.
Em 1517 com a reforma, Lutero propõe uma nova forma de utilização do canto litúrgico. Para ele, a música era uma dádiva exclusiva de Deus aos homens e como dádiva, a música deveria servir como veículo da palavra, portanto, serva. A partir desse momento, podemos pensar em uma ênfase no ensino teológico e doutrinário onde se pensava que a melhor música seria aquela que fosse o melhor veiculo para o texto ("praedicatio sonora" – Um sermão em sons). O canto litúrgico agora deveria ser cantado por toda congregação na sua lingua local, músicas "fasslich und gut singbar" fáceis de cantar e de se aprender, de preferencia silábicas e não mais melismáticas.
Essa caracteristica "veicular" da música foi muito buscada no barroco onde grandes mestres, e cito como o maior exemplo J.S. Bach, elaboravam suas músicas a partir de inúmeros critérios (construidos por muitos musicistas), buscando tornar a música composta em um veículo sólido de expressão da palavra. Para eles seria a música que agradaria a Deus e buscavam agradá-lo. Podemos perceber na grandiosidade de suas composições. Os compositores da música litúrgica deste tempo eram teólogos e mestres da música.
Com o advento da indústria e a era do capitalismo, começaram a aparecer os músicos concertistas fazendo música com a intenção de se obter lucro. A música começa a ter uma vertente de caráter comercial… Surge o conceito de música "erudita", para os "ouvidos apurados", que nada mais eram do que os ouvidos da burguesia querendo satisfazer os seus próprios caprichos e portadores de um gosto e critérios de avaliação musical muito duvidosos (kitch). Surge a chamada indústria cultural.
Podemos então constatar que estamos vivenciando um tempo, em que os compositores da música litúrgica contemporânea, em sua maioria, não são teólogos ou ministros e mestres, mas muitas vezes são leigos. Não podemos ser extremistas ao ponto de dizer que pessoas leigas não podem se expressar por meio da música, Deus usa quem ele quer e como ele quer, Ele deu ao homem a liberdade de expressão, mas, vamos pensar um pouco a respeito das composições que temos cantado em nossas igrejas.
Por que nossos ministros compõem tão pouco? Onde estão os nossos poetas? A nossa música tem sido verdadeiramente serva e veículo? Por que há poucos que trabalham a favor de uma manifestação graciosa de gratidão a Deus e adoração por meio de palavras bem proferidas e canções criadas com responsabilidade e qualidade?… será que as vezes deixamos de fazer da música um sermão em sons?(como dizia Martinho Lutero) Temos ótimos compositores, mas temos também não poucos mestres que poderiam compor mas não o fazem.
É importante continuarmos indagando… Como anda a música na nossa igreja? E, se temos dificuldades em encontrar boas composições (principalmente cânticos), quanto tempo temos investido para mudar essa realidade?
Que o Senhor nos dê graça e animosidade para sermos instrumentos usados por Deus para a glorificação do nome de Jesus Cristo.
Um abraço
Ramon Chrystian A. Lima