REFLEXÕES PARA UMA LIDERANÇA SUSTENTÁVEL 1 – Uma preocupação no novo milênio (One concern in the new millennium)
Muito se ouve falar sobre estresse no mundo contemporâneo. Sempre são divulgadas notícias deste assunto através dos meios de comunicação em massa. Conhecemos que o ritmo das grandes cidades leva muitas pessoas ao esgotamento físico, emocional e mental.
Consequentemente, as relações humanas são muito afetadas. Embora se fale bastante sobre este fenômeno, muitos não sabem muito bem o que significa estresse, como ele se dá e quais as maneiras de minimizar seus efeitos nocivos.
O termo estresse foi introduzido pelo médico Hans Selye, o moderno conceituador desta terminologia. Ele definiu o estresse como “uma síndrome produzida por vários agentes nocivos. Sua ênfase era na resposta não-específica do organismo a situações que o enfraquecessem ou fizessem-no adoecer” (FIAMONCINI & FIAMONCINI, 2003)
O estresse também pode ser definido como “uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite, confunda ou mesmo que a faça imensamente feliz" (FIAMONCINI & FIAMONCINI, 2003 apud LIPP, 1996).
Muitos citam que o estresse é “a doença do século ou a doença do terceiro milênio.” (BERNIK, 1997)
Bernik (1997) conta que nos Estados Unidos os gastos com despesas relacionadas ao estresse, por vezes, chegam aos 75 bilhões de dólares anuais. Ele também faz um interessante comentário:
A vulnerabilidade hereditária, mais a preocupação com o futuro, num tempo de incertezas, de um o país que estabiliza a moeda, mas aumenta o número de desempregados, ao mesmo tempo em que a qualidade de vida piora, existem os medos do envelhecimento em más condições, e do empobrecimento, além de alimentação inadequada, pouco lazer, a falta de apoio familiar adequado e um consumismo exagerado. Todos são fatores pessoais, familiares, sociais, econômicos e profissionais, que originam a sensação de estresse e seu conseqüente desencadeamento de doenças, de uma simples azia à queda imunológica, que pode predispor infecções e até neoplasias (Bernik, 1997).
Síndrome do Sacrifício é um termo usado pelos autores Boyatzys & Mckee (2006) para designar o estado em que uma pessoa se sacrifica no trabalho cada vez mais e acaba caindo em um ciclo de estresse constante, entretanto, podemos constatar outro nome usado por estudiosos para definir este mesmo problema: A Síndrome de Burnout ou a Síndrome do esgotamento profissional. Os estudiosos afirmam que esta síndrome tornou-se um fato alarmante para a comunidade científica, empresas e governos mundiais.
Estudos realizados nos Estados Unidos da América que indicam que a Síndrome de Burnout constitui-se em um dos grandes problemas psicossociais atuais, despertam interesse e preocupação não só por parte da comunidade científica internacional, mas também das entidades governamentais, empresariais e sindicais norte-americanas e européias, devido à severidade de suas conseqüências, tanto em nível individual como organizacional. O sofrimento do indivíduo traz conseqüências sobre seu estado de saúde e igualmente sobre seu desempenho, pois passam a existir alterações e/ou disfunções pessoais e organizacionais,com repercussões econômicas e sociais (Vilarta, 2006 apud Codo, 2000).
Covey (2009) faz uma citação de Bruce Barton: “Por vezes, quando reflito sobre as tremendas conseqüências que resultam das pequenas coisas… Fico tentado a pensar que não há pequenas coisas” (apud COVEY, 2009 p. 345). Esta citação nos traz à tona uma verdade: As pequenas coisas que são feitas com regularidade, têm um poder muito grande sobre nossas vidas. Swindow (2002, p.16) cita um provérbio grego: “Você quebrará o arco se o mantiver sempre retesado“. Os estresses constantes, com o passar do tempo, podem causar um danoso impacto sobre a qualidade de vida.
O sistema imunológico, responsável pela ação de defesa do organismo contra infecções, é o mais afetado nas situações de stress. A liberação de substâncias do grupo denominado glucocorticóides, em situações de stress crônico[1], está associada a uma sensível diminuição da capacidade de defesa do sistema imunológico, aumentando o risco de infecções (Fiamoncini & Fiamontini, 2003 apud Nahas, 2001).
Sob pressão, nossos corpos começam a ficar suscetíveis a doenças. Alguns líderes […] têm problemas gastrointestinais. São tão comuns que o fato de tomar alguns tipos de medicamentos para a prevenção do desenvolvimento de úlceras estomacais já indica que a pessoa seja um líder. […] Alguns líderes sofrem de pressão sanguínea alta e correm o risco de ter derrame cerebral (AVC), infarto e outras doenças vasculares. […] De fato, várias doenças estão diretamente ligadas ao estresse crônico, incluindo diabetes e infecções virais e bacterianas. Além do mais, um crescente número de pesquisas recentes demonstra que a depressão e outras doenças complexas da mente e do corpo tornam-se piores e mais intensas sob condições de estresse crônico. (Boyatzys & Mckee, 2006, p.49)
O líder pode vir a cair em um ciclo de sacrifício pelo trabalho. Ele aumenta sua carga gradativamente até chegar ao ponto de não suportar e acabar por se emaranhar em um estresse contínuo, procurando sempre produzir mais.
Para nossa melhor compreensão, é importante definirmos as palavras síndrome e sacrifício.
Síndrome é um “estado mórbido (doentio) caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas, e que pode ser produzido por mais de uma causa” (FERREIRA, 2001, p. 638).
Sacrifício, segundo (FERREIRA, 2001, p.619) pode ser:
- Ato ou efeito de sacrificar-se;
- Privação de coisa apreciada;
- Renúncia em favor de outrem.
Pelas próprias definições destas palavras, podemos entender que a síndrome do sacrifício se trata de um estado doentio que tem por sinais o ato ou efeito de sacrificar-se, privando-se de coisas apreciadas e/ou renunciando-se em favor de outrem.
Segundo Boyatzys & Mackee (2006), os líderes têm sempre um desafio atrás do outro e, geralmente, os prazos são cada vez mais desafiadores para eles. Muitas mudanças acontecem ao mesmo tempo, desde mudanças e desafios organizacionais até mudanças nas nações. “Para voltar à ressonância e contra atacar a Síndrome do sacrifício, precisamos fazer da renovação um estilo de vida” (BOYATZYS & MCKEE, 2006, p. 67). Algumas vezes, tendemos a simplificar, cortar e diminuir nossas tarefas, mas deixamos de cuidar de coisas essenciais da vida como os relacionamentos com a família e com pessoas importantes da nossa vida, ou até mesmo de ter cuidado com o espírito e o corpo.
A dissonância[2] é mais comum do que a ressonância, a liderança fraca é evidente com maior freqüência do que a boa. Nesse ambiente de mudança sem precedentes, a dissonância tornou-se o modo padrão, e até mesmo os bons líderes encontram-se caindo em suas garras. E esse é o desafio de ser um líder hoje: como administrar a Síndrome do Sacrifício, como construir e sustentar a ressonância diante das grandes provações (Boyatzys & Mckee, 2006, p.18).
Vilarta (2006, p.97,98) descreve vários sintomas desta síndrome, tais como:
- Sensação generalizada de cansaço
- Dificuldade de dormir
- Irritabilidade
- Capacidade de raciocínio prejudicada
- Dores do estômago
- Depressão
Boyatzys & Mckee, 2006 descrevem também dois sintomas que são notáveis:
1. Negação de problemas: Como a pessoa se esforça muito pelo trabalho e está num estresse constante, os sintomas são evidentes como descrevem: “A linguagem corporal, o tom da voz e até mesmo suas palavras indicavam emoções conturbadas: raiva, hostilidade, inveja, orgulho e um profundo ressentimento por ser tratado injustamente” (BOYATZYS & MCKEE, 2006, p.35). Tratado injustamente porque a pessoa por vezes nega que está com problemas.
2. Necessidade de auto-afirmação; Boyatzys & Mckee (2006, p.34) contam o caso de Karl, um executivo: “Cada vez ficava mais insuportável conviver com Karl. Tudo o que falava girava em torno de si mesmo.
O estresse também pode ser gerado por meio de uma mudança e por vezes pode até ser benéfico, como é no caso da prática da aprendizagem. Para esta pesquisa, o tipo de estresse que nos importa é aquele em que a exigência é maior do que os meios para enfrentá-la. Neste caso, o sentido é o de desgaste físico e emocional.
[1] Estresse crônico é aquele que ocorre repetidamente ou constantemente no viver da pessoa, tal como as tensões constantes advindas do ambiente de trabalho, a preocupação com dívidas, relacionamentos difíceis etc.
[2] Os termos dissonância e ressonância, Segundo Boyatzys & Mckee (2006) têm a seguintes conotações: Dissonância é o estado desarmonioso do líder consigo mesmo e com seus semelhantes, onde é caracterizado pelos sintomas de estresse na forma aguda (esporádica) ou crônica (contínua), o que ajuda a criar ambientes e uma vida tóxica. Ressonância é o oposto, onde a pessoa está consciente de si mesma e do mundo ao seu redor, busca a renovação e cria um ambiente harmonioso, de esperança e compaixão consigo mesma e com os semelhantes.