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O Ritmo Enquanto Linguagem

O RITMO ENQUANTO LINGUAGEM – Ramon Chrystian

Este trabalho visa fazer considerações a respeito do ritmo enquanto linguagem, e foi primordialmente baseado na apostila de Percepção II mas também há a utilização de outras fontes que serão devidamente citadas.

Segundo (AP.P.2007) o ritmo tinha o sentido, para os gregos, de "algo que flui, algo que se move"(p.23). O autor considera que só podemos ter noção de ritmo quando há irregularidades com certo grau de ordenação dentro desse fluir.

Por ser um elemento tão abstrato, alguns eruditos preferem não definir o ritmo.

Os recentes teóricos musicais tem tentado falar a respeito das conecções existentes entre ritmo, metro (medida) e a organização dos eventos sonoros na música. Segundo (HASTY 1997 – p. 3), por exemplo, entre os atributos do ritmo nós podemos incluir continuidade ( fluir), articulação, regularidade, proporção, repetições, padrões, formas, animação e movimento e diz que alguns eruditos preferem dizer que a música pode até ser considerada como uma "ritmização" do som.

(Jourdain 1998) Fala de dois tipos de ritmo: Um tipo se refere ao metro, talvez a associação de batidas acentuadas, a segunda concepção de ritmo que ele expõe está também ligada diretamente ao conceito grego do fluir que (Jourdain 1998) define como sendo "ritmo do movimento orgânico"(p.167). Esse ritmo do movimento orgânico está associado ao fraseado rítmico.

"A música dificilmente existiria sem os dois tipos de ritmo. O metro dá ordem ao tempo. Organiza grupos de notas pequenos e, algumas vees, maiores, fornecendo uma espécie de grade sobre a qual a música é esboçada. Por outro lado, o fraseado confere à música uma espécie de narrativa. É o mecanismo através do qual uma composição pode desempenhar um grande drama." (p.168)

(AP.P.2007) Trata dos fatores geradores de ritmo tais como a intensidade, que pode gerar um certo ritmo até mesmo subjetivamente como no exemplo dado do metrônomo;Também fala da variação de timbres que pode gerar um ritmo, um fluir diferenciado entre algo calmo e algo rude e abrupto.

Através do ritmo a expressão do ser humano pode ser melhor representada na linguagem musical, nesse sentido, o ritmo como linguagem é de fundamental importancia e transpassa a obra artística chegando também na arte do viver diário. O viver é ritmico, possui um fluir, e é tão instrinseco ao ser humano que afeta no funcionamento dos nossos órgãos. O batimento cardíaco é regularizado com a pulsação de uma música barroca, por exemplo, e estudos como o da Dra Esther Beyer (UFRS) demonstram o poder que a música e o ritmo tem no desenvolvimento cognitivo de um ser humano em formação.

(AP.P.2007) vem relaciona algumas fontes de ritmo e as classifica em:

 

Psicossomáticas: Como a dança, os passos, os ritmos do pulso do coração etc.

Fontes exteriores: De elementos como as máquinas, o cair da chuva, etc.

Fontes artificiais:Como a música eletrônica.

Como linguagem de expressão musical, (Jourdain 1998) tras algo importante pra nós compreendermos como, funcionalmente, o ritmo é importante no processo de cognição da semiótica musical:

"O que chamamos de ritmo existe, na música, para ajudar o cérebro nessa tarefa" Nessa afirmação, (Jourdain 1998) trata da tarefa da assimilação do conteúdo musical em pequenos blocos. Agora ele complementa sua idéia falando do processo: " O ritmo desenha linhas em torno das figuras musicais. Uma sequencia de marcadores rítmicos diz ao cérebro: "Este é o começo, ou o fim, de um objeto musical". Assim, o cérebro sabe que adquiriu todas as informações de que precisa, para entender uma figura musical particular, que encheu a boca e é hora de engolir" (p.169)

A partir desses marcadores rítmicos o cérebro humano já passa a ter melhores condições de analisar outros fatores em profundidade como os encadeamentos harmônicos, as ascensões ou descensões melódicas, etc.

(AP.P.2007) em um segundo momento, vem comentando a respeito do ritmo no mundo e na história. Primeiramente ele fala da música indiana e tras uma afirmação interessante de H.J. Koellreutter a respeito dela: " A música faz parte da vida e acompanha o homem desde o início até o fim de sua existência…A música constitui para o homem o meio de unir-se ao princípio original"(p.31) Percebemos que o fluir ritmico nesse tipo de música é diferente do nosso tipo ocidental (métrico) e também diferente do estilo africano. Ó autor aborda o ritmo de Jazz sendo que o swing do jazz ( denominado swing feel) "é uma característica essencialmente rítmica" (p.32) Este estilo possui características européias como a harmonia e as formas melódicas mas, em contrapartida, sua concepção ritmica contém muitos elementos da música africana. Interessante é que a acentuação nos segundos e quartos tempos já incita os seres humanos ao swing.

O ritmo da música européia era, em sua fase inicial, engessado e rígido. Provavelmente para manter um "caráter religioso" da música cantada nas catedrais. O canto gregoriano, por exemplo, tinha uma função mística de ambiência e, por esse e vários outros motivos, um ritmo mais livre poderia trazer algum sentimento que viesse a desvirtuar a devoção. Depois da renascença é que o ritmo da musica européia ganha mais liberdade e expressividade. Liberdade essa que levou a música do período gótico ( fim de XII, séculos XIII e XIV) a assumir um caráter irregular, dando nos uma sensação de algo quebrado, contorcido e carregado de tensões. Na renascença ( séc. XV) "[…]a racionalidade rítimca é amenizada por sutis inflexões, pequenas assimetrias e outros recursos que dão uma certa flexibilidade ao ritmo geral".(p.35)

No período barroco o ritmo é muito regular, é matemático e possui assim uma métrica muito bem definida, causando um efeito quase que mecânico e pesado. Segundo (AP.P.2007), a racionalidade rítmica veio ao auge na útlima fase do barroco. No rococó ( meados de 1730) existe uma racionalidade ritmica como no barroco, mas possui algumas diferenciações na regularidade rítmica. O período romântico se destaca como empregador do rítmo de uma forma "plástica". A variedade dos elementos rítmicos para que os sentimentos humanos fossem expressos de forma plena na música. No século XX, os compositores têm dado importância e redescoberto que a linguagem rítmica é um elemento vital para a música. Os compositores contemporâneos estão procurando fazer experiências com dispositivos ritmicos de várias épocas e estilos a fim de trazer inovação em suas composições.

O que podemos concluir é que indubitavelmente o ritmo assume um papel musical extremamente importante em sua linguagem. Principalmente por que ele, que é um elemento abstrato, pode produzir inúmeras sensações em nós como ouvintes, como trabalhadores, como estudantes e como musicos. Como já havia explanado antes, o seu fluir transpassa a própria música pois ele faz parte do nosso próprio ser. Interessante é ter um conhecimento cada vez mais aprofundado da relação entre os elementos rítmicos e seus efeitos para que a utilização destes, seja cada vez mais compreendida e efetiva de acordo com a finalidade designada.

 

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