Reflexões e Inspirações: Eduardo Mano e o Significado por Trás de Canções do Exílio

O cantor, compositor e missionário Eduardo Mano lançou seu álbum mais recente, “Canções do Exílio”, uma obra profunda e reflexiva que captura a jornada espiritual do cristão e suas reflexões sobre a vida. Eduardo é um amigo e irmão muito querido. Tem trabalhado há 15 anos no ministério e possui vários álbuns gravados.
Fomos contemporâneos na época do Seminário e tenho alegria de acompanhar seu ministério ao longo destes anos.

Além de recomendar que você ouça apreciando cada canção, trago aqui essa entrevista com Eduardo que tem trabalhado atualmente em Lisboa, Portugal abençoando sua igreja local e as igrejas de Cristo naquela região. Vou trazer um pouquinho de minha percepção sobre o projeto e conversar com Eduardo sobre as canções. Ao longo desta jornada você poderá ouvir o álbum aqui mesmo nesta página.

1. Inspirando o “Canções do Exílio”

Ramon Chrystian: Eduardo, é uma alegria poder conversar com você sobre o novo álbum. Conte-nos um pouco sobre a inspiração geral por trás do álbum “Canções do Exílio” e qual foi o significado desse título para você.

Eduardo Mano: O disco foi gravado ao longo de quase três anos. Iniciei o processo em 2020, logo no início da pandemia. O disco foi uma das formas que usei para lidar com minha saúde mental. Tenho lidado desde 2021 com um diagnóstico de depressão que, infelizmente, eu demorei em pedir ajuda para tratar. O título Canções do Exílio vem justamente deste sentimento. O primeiro, do exílio em que eu me coloquei, isolando-me das pessoas e ficando cada vez mais em casa. O segundo, por eu e minha família estarmos longe de nossa terra, servindo e vivendo longe do Brasil.

2. A Coerência da Sequência das Canções

Ramon Chrystian: Particularmente, percebo que o álbum tem uma sequência muito coerente, é como se fosse um livro. Conte-nos um pouco da idéia de iniciar com o texto de Romanos, narrado pelo reverendo Joel Theodoro e logo em seguida o convite de Jesus através da canção Manso e Suave, um clássico da música cristã.

Eduardo Mano: Romanos 8 foi o texto que me manteve de certa forma firme na certeza de que Deus permite que passemos por momentos complicados, e que nada pode nos separar Dele. Fico feliz que você tenha percebido que o disco se parece um livro, pois eu estou trabalhando em um material, que tenho chamado de livro/encarte, que seria uma companhia ao disco. Nele eu explico melhor cada uma das faixas, e como Romanos 8 é trazido à lembrança ao longo do disco.

Tanto na leitura do texto de Romanos quanto no hino Manso e Suave, queria deixar caro duas coisas: a primeira é que o disco, mesmo que traga questionamentos, dúvidas e crises – e creio que Jesus é quem melhor pode recebê-los todos – é um memorial da obra, companhia e sustento de Jesus na minha vida. E sei que, dessa forma, ele pode ressoar na vida de muitas outras pessoas: ao abraçar a dor, mas levá-las até os pés de Jesus.

3. A Influência dos Hinos Cristãos

Ramon Chrystian: A segunda música “É estreita a porta à vida” , é como uma extensão do convite inicial, com constatações sobre a obra de Jesus e discorre como Ele é a única forma de trilharmos essa jornada como peregrinos e termos como destino o céu. Ela tem uma estética bem aproximada dos hinos do cantor cristão. Conte-nos um pouco sobre o processo de composição dessa canção e a participação do Rafael Porto no projeto dessa canção.

Eduardo Mano: Eu sou profundamente marcado pela hinódia cristã. Amo os hinos, e confesso que tenho uma certa predileção pelo Cantor Cristão. Não julgo que todas a músicas nele sejam perfeitas, longe disso, mas cantar hinos que já eram antigos quando meus pais eram jovens, e que continuarão relevantes mesmo depois que Cristo me levar daqui, é algo muito poderoso. Cantamos hinos compostos em 1500, 1600, 1700… hinos que foram relevantes na vida de irmãos nossos nascidos 300 anos antes de nós, e ainda são relevantes hoje.

Tenho buscado compor canções que se assemelhem, estruturalmente, a hinos, com uma métrica melhor definida, bem como rimas e estruturas de estrofes e refrões mais familiares. Creio que é um exercício ótimo para os compositores cristãos. Hinos parecem fáceis de serem compostos, mas o fato de precisarmos seguir regras e estruturas podem ajudar a termos foco.

O Rafael é um amigo muito querido, e músico excepcional. Pedi a ele que desenvolvesse o piano de duas faixas, e fiquei muito feliz com o resultado. Somos amigos há mais de uma década, temos apoiado uma carreira do outros há anos, mas ainda não havíamos feito nenhuma parceria. Pedi a ajuda de amigos especiais neste disco, o Rafael é um deles.

4. Composições como Orações

“Quando escrevi esta música, o sentimento que tinha era justamente este: meus pensamentos estão correndo soltos como cavalos. Precisam ser domados. E apenas Deus pode domá-los, tomá-los em Suas mãos e transformá-los.” (Eduardo Mano)

Ramon Chrystian: “Doma, toma, transforma” é a próxima música nessa sequência. Me soa como o peregrino que ouviu o convite, se apropriou das verdades sobre a obra de Cristo e agora ora em contrição pedindo pela transformação de seu ser. Uma linda canção em forma de oração seguida de “Seja Cristo” que tem um caráter também de entrega e com uma estética que lembra o folk. Conte pra gente um pouquinho sobre o processo de composição dessas canções e sobre a participação do João Manô.

Eduardo Mano: “Doma, Toma, Transforma” é realmente uma oração. A música é simples, mas a harmonia dela é, acho, a mais “complexa” que já escrevi. Complexa para as minhas habilidades musicais, claro. Novamente tenho a ajuda do Rafael no piano. A música foi composta no violão, mas quando ouvi o piano e o Hammond que ele gravou, decidi retirar o violão por completo, e tornar esta a primeira faixa do meu repertório que é completamente piano e voz.

“Seja Cristo” é, igualmente, também uma oração. Novamente escrevi a canção em uma estrutura mais rígida, como um hino, mas sem refrão. Essa foi uma das primeiras músicas que escrevi neste processo entre 2020 e 2023, tanto que ela tem um caráter ainda mais esperançoso e menos sombrio, como algumas músicas seguintes. Convidei o João Manô para cantá-la comigo, pois é um jovem que admiro muito, e com quem havia tido um contato prévio.

5. Enfrentando Dilemas e Reflexões

Ramon Chrystian: Fico imaginando como um livro, o álbum chega a um ponto em que o peregrino tem seus dilemas e reflexões sobre a vida e percebe que é no próprio Cristo que ele tem a resposta para suas vicissitudes. Como foi o processo de compor essas duas canções? “Eu clamei ao Senhor por respostas” e “Quando a alegria acaba”. Músicas que tem mais duas participações: do Nathan Bomilcar e do Calebe Lasso.

O peregrino, convencido de que aqui na terra está de passagem e que seu lugar de descanso e paz perene é com o Senhor canta com esperança e vigor no coração. Tendo tanto esperança para o futuro quanto consolo para o presente. Como essas canções tocaram em sua vida?

Eduardo Mano: As 4 faixas finais do disco são, para mim, as mais especiais. Primeiro por reconhecerem que, mesmo no silêncio de Deus, Ele responde.

Segundo por tocar num ponto que foi realidade para mim, e é para muitos, mas que a música gospel, carregada de valores triunfalistas e de prosperidade, não consegue reconhecer: a possibilidade de termos de nós a alegria roubada pela doença. A dureza e frieza da escuridão, da incerteza humana de esperança. A Bíblia trata disso, mas muitas vezes não queremos falar sobre isso por medo de soarmos como pessoas descrentes ou menos espirituais.

Terceiro por pedir que Cristo cresça em nós, o que significa a morte de nosso ego e, muitas vezes, a morte de sonhos e desejos que acalentamos em nossos corações, mas que podem ser bem diferentes daqueles que Deus tem para nós. E em quarto lugar, a certeza de que nosso lar não é aqui, e que neste mundo, teremos aflições.

A esperança do Cristão não deveria ser viver bem neste mundo, embora muitos de fato têm uma vida ótima aqui. Mas sim a certeza de que há um lugar preparado para nós e que é infinitamente superior a qualquer riqueza, poder, grandeza e tudo mais que o mundo diz que é bom.

Muitas vezes, ao escrever essas músicas, não experimentei necessariamente uma explosão de louvor a Deus. Foi muito mais um exercício de obediência, um exercício da esperança que a Bíblia me ensina, mesmo que eu não conseguisse ver nada disso naquele momento.

6. Canções de Esperança e Consolo

Quando a Alegria Acaba

O álbum culmina com uma sensação de esperança e consolo à medida que o peregrino se volta novamente para o Senhor em oração, pedindo que “Ele cresça” em seu coração. A última faixa, “Já não tenho um lar que seja meu”, expressa a convicção de que o lar verdadeiro do cristão não está neste mundo, mas com o Senhor. Eduardo compartilha como essas músicas tocaram profundamente em sua vida, oferecendo esperança e vigor.

Ramon Chrystian: Como foi para você compor as músicas para esse álbum? Todas as canções são especiais, mas existe alguma faixa em particular que tenha um significado especial para você?

Eduardo Mano: Eu não tinha ideia de que estava compondo um disco enquanto escrevia estas músicas. Vi que, no final, tinha um conjunto de canções que se alinhavam em tema, e vi que era importante ter isso para a minha caminhada.

Durante esse tempo, antes do lançamento do disco, eu passei muitas noites de insônia ouvindo essas faixas no celular. Foi parte do meu tratamento, além de remédios, exercício físico, aconselhamentos e outras coisas.

Ao mesmo tempo, compus uma série de músicas baseadas nos Salmos, que também lancei em disco, sob o título de Salmodiai. Ambos os discos têm o mesmo sentimento, andam em paralelo.

De todas as faixas, “Quando a Alegria Acaba” e “Já não Tenho um Lar que Seja Meu” são, para mim, as mais especiais. Sou grato a Deus pela inspiração ao escrevê-las.

7. Composição e Produção Musical DIY (Faça Você Mesmo)

Ramon Chrystian: Agora, falando um pouco sobre a produção musical. Visto que muitos amigos leitores têm o desejo de gravar suas composições. Você pode nos contar um pouco sobre a equipe envolvida e as escolhas feitas em relação aos arranjos e instrumentação? Algumas dicas para nossos leitores sobre o processo de gravação, já que muitos gostariam de gravar também suas composições.

Eduardo Mano: Eu gosto muito de produção musical, mas estou longe de ser um exemplo. Tudo o que aprendi, foi através do YouTube. Tenho um setup muito simples, com uma placa de áudio de entrada da Focusrite, um controlador MIDI da Alesis com apenas 2 oitavas (quero melhorar isso para um controlador com 4 oitavas) e dois microfones, um Shure SM58 e um Condensador.

Desde a captação à mixagem e masterização, fiz tudo sozinho, em casa. Tive a participação de alguns amigos que, assim como eu, gravaram em suas casas. Nathan Bomilcar, guitarrista, é com quem tenho colaborado há mais tempo, desde 2018. Ele gravou para este disco algumas guitarras e também guitarra portuguesa. Já gravamos outras coisas juntos e temos um projeto de música instrumental chamado Themelios, mas que está parado.

Caleb Lasso, um amigo de cellista, colaborou com lindas passagens na faixa “Eu Clamei ao Senhor por Respostas”. Embora eu seja um designer gráfico, a capa foi feita em aquarela, pelo artista Renato Debs. Acho que com isso eu quero dizer que, mesmo fazendo as coisas em nossas casas, em nossos quartos, não precisamos estar sozinhos.

Acho que precisamos aprender a trabalhar com aquilo que temos na mão. Meu equipamento é muito limitado. Meu computador, embora seja um Mac, é de 2012 – o sistema operacional e alguns programas nem atualizam mais. Mas eu não tenho grana para investir em tempo de estúdio. Esperar o “momento perfeito” pode, muitas vezes, matar o ímpeto artístico.

O movimento Punk de meados dos anos 1970 tinha por lema o “Do It Yourself”, ou faça você mesmo, o que conferiu liberdade a muitas pessoas a expressarem sua arte mesmo em condições mais precárias. É claro que quado falamos de gravação caseira, sabemos que haverá uma diferença de qualidade para algo gravado em estúdio, com equipamento e ambientes mais específicos. Mas não estou advogando pelo “fazer de qualquer jeito”.

Eu estudo semanalmente para ver aquilo que posso melhorar em meus trabalhos, e fico feliz quando amigos ou pessoas que me seguem dizem que meus novos discos são melhores, em qualidade de áudio, que alguns anteriores.

“Fazer Você Mesmo” não é sinônimo de “Fazer de Qualquer Jeito”. Se aquilo que fazemos é uma oferta de amor a Deus, fazemos na melhor da nossa habilidade, sem nos preocuparmos com o que outras pessoas vão achar. Retiramos o aspecto mercadológico do jogo, e entregamos adoração. É como tenho levado minha produção ao longo dos anos.


A jornada musical e espiritual de Eduardo Mano reflete a busca pela conexão mais profunda com Deus por meio da arte. Seu álbum “Canções do Exílio” é mais do que uma simples coleção de músicas; é uma narrativa rica que oferece conforto, reflexão e esperança a todos que o ouvem. Suas músicas tocam os corações e inspiram outros a expressar sua devoção e fé por meio da música. Para saber mais sobre o trabalho do Eduardo Mano e ouvir suas músicas, siga-o nas redes sociais e visite seu site oficial em velhasverdades.com.

Conecte com o Eduardo Mano:

Agradeço ao querido amigo Eduardo por compartilhar sua jornada e insights conosco. Suas músicas continuam a tocar nossos corações e a nos lembrar da importância da fé e da esperança, mesmo nos tempos mais desafiadores.

Ao Senhor Jesus toda glória.

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Ramon Chrystian
Ramon Chrystian é ministro de música e adoração, formado em música sacra pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (STBSB/RJ - FABAT), estudou guitarra elétrica na Faculdade Santa Cecília -SP, Conservatório Brasileiro de Música - RJ e Starling Academy of Music. Consagrado ao Ministério de Música na Igreja Batista Itacuruçá - Tijuca -RJ, atualmente é ministro de música na Terceira Igreja Batista de Cabo Frio/RJ. Autor do livro: Ministério de Música: Tensões na Liderança e a Renovação Pessoal. Ministra palestras em diversos congressos no Brasil tratando de temas como a elaboração de arranjos, guitarra elétrica e louvor e adoração. Como escritor colaborou com as revistas Louvor, Diálogo & Ação, o Embaixador. Colunista do jornal Tijuca em Foco, site Prazer da Palavra (Israel Belo de Azevedo) e Guitar Battle. Mantém o Blog www.letrasonora.com.br onde escreve periodicamente sobre música e adoração.

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